Total de visualizações de página

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O amor, o amar e as suas formas

De todos os sentimentos capazes de serem experimentados pelo ser humano, o amor certamente é aquele que mais influencia no nosso modo de pensar e agir ao longo da existência. É ele quem dita a maior parte de nossas atitudes e estabelece uma incrível comunicação com o outro.

Existem vários tipos de amor: o de mãe por um filho, o de avô por um neto, o de um homem por um animal. Os relacionamentos amorosos entre duas pessoas que se apaixonam é o que se destaca na sociedade por ser uma experiência de total confiança e apego ao “objeto” da paixão. É como se o apaixonado fosse um pássaro ganhando vôo livre, embora não saiba o que há de encontrar em sua jornada pelo céu.

Vejo diferença entre amor e amar. O primeiro é fato concluído em si mesmo, enquanto o segundo é doação sem que necessariamente haja uma entrega total a uma única pessoa. Amar é ato gratuito, difuso e parte de dentro para fora; ao contrário do primeiro, que é quase empírico, parte de um princípio, de uma experiência, por vezes de um primeiro contato, para que assim se estabeleça no campo afetivo.

Alguns exemplos do amar são vistos com freqüência em religiosos que dedicam suas vidas a ajudar o próximo. São capazes de enxergar em seu semelhante a própria face. Essas pessoas têm uma visão horizontal. Ao passo que o amor, a depender do ponto de vista, é perpendicular. Segue uma ordem de baixo para cima.

Ainda no caso do relacionamento amoroso entre casais, muito nota-se um “abaixo” do outro, sempre esperando que aquele lhe traga e lhe dedique uma atenção e um carinho que ele não consegue dar a si mesmo.

Diz a bíblia que Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu filho unigênito como sacrifício pelo bem da humanidade. Independente da crença religiosa, este seria um bom exemplo de amar. Deus amou o mundo. Por sua vez, um exemplo de amor seria o caso da mãe que deixa de comer para ceder o alimento ao filho.

Nada se justifica sem amor. É um sentimento cego. É aquele que possui um arbítrio irrestrito sobre nós. Não se tem capacidade maior para determinar pensamentos, atitudes e modo de ser.

Já disseram que a medida da dor é a mesma medida do amor. O tanto que se ama, é o tanto que se sofre por esse amor.

A manifestação suprema do amar e do amor tem variadas formas, pode se apresentar de diversas maneiras, por vezes de modo subjetivo, implícito. Pode ser um gesto, uma palavra, um sussurro ou até mesmo um prolongado silêncio. É como se o que sentimos transbordasse e fosse desaguar no outro sem a necessidade de consentimento.

Nos primórdios da humanidade, o sexo se sobrepunha ao amor por uma lógica que visava perpetuar a espécie. O amor [se viesse] viria mais tarde. Hoje pensamos no amor antes do sexo. O mais curioso é saber que a valorização do sentimento trouxe não só a felicidade, mas o sofrimento também. Os conflitos amorosos tomaram conta da sociedade tanto quanto a possibilidade que ganhamos de amar.

Há quem diga que prefere evitar o amor como forma de se proteger das desilusões futuras. Outros apregoam que o amor e a liberdade são opostos e que nunca chegam à pacificação.

No século XIX era romântico sofrer por amor. Em tempos atuais é comum percebermos que o sofrimento tornou-se algo quase patológico, freando e reprimindo cada vez mais os sentimentos, e em alguns casos provocando lesões irreparáveis à autoestima.

Muito se fala na “revolução sexual” da década de 60, e alguns estudiosos afirmam que esse momento histórico fortaleceu a liberdade nos relacionamentos interpessoais. Por outro lado, houve um decréscimo do romantismo d’outros tempos. Passou a existir um maior “poder de escolha” no campo afetivo e sexual. O problema é que o amor não acompanha as mudanças do tempo, é inadaptável à razão, aos conceitos, daí o motivo de tanta controvérsia e amargura.

Amar é mais abrangente e por isso sempre faz bem para o corpo e alma. O amor é singular, enquanto amar é plural. Doar um pouco de nós para os outros, desfazendo-se de qualquer traço de individualismo, é divino. É exercício pleno da nossa condição humana.

E como diz a música: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”.