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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A demonização do entretenimento de massa

Não é de hoje que ouço falar dos meios de entretenimento para a grande massa como algo de pouco ou nenhum valor cultural. As mídias especializadas nesse tipo de conteúdo sofrem com a não-aceitação e a crítica feroz das elites.

É como se houvesse uma hierarquia. Para os ricos, o melhor; para os pobres, um subproduto. Essa espécie de divisão busca valorizar ainda mais as classes privilegiadas, colocando-as num pedestal, como detentoras do que há de melhor em cultura. É uma tentativa de justificar por que uns têm mais do que outros.

O raciocínio é o seguinte: uma pessoa de instrução, bem articulada, que conheça países, fale idiomas, tenha acesso a bons lugares certamente justificará estes privilégios por meio do que chamo de demonização do entretimento para os mais desfavorecidos. Alguns privilegiados dirão: "Eu tenho mais que você porque eu tenho cultura, e você não."
 
Vale lembrar que o Brasil é um país onde a maior parte das pessoas vive na pobreza ou abaixo dela. Muitos não têm acesso a museus, livros, teatros, salas de cinema Não por que não querem. Mas por que não podem. Não me parece absurdo que um chefe de família compre um quilo de comida em vez de um ingresso de cinema, por exemplo.

Acho válido tudo que é feito para as massas. Para as classes mais pobres. Temos uma das melhores redes de entretenimento do mundo. Um meio de entretenimento injustamente depreciado é a telenovela. O Brasil conquistou know-how nesse setor e exporta suas produções para mais de cento e vinte países. Fora outras produções, como programas de auditório, transmitidos através das redes internacionais vinculadas às emissoras.

Precisamos parar de demonizar o que é de acesso fácil para esse grande público tão carente de cultura.

Por que não criar iniciativas governamentais que barateiem os custos das produções teatrais e assim tenhamos ingressos a preços populares? Da mesma forma, por que não o fazem com o cinema? Por que não há incentivo para que as pessoas ao menos uma vez visitem os museus de sua cidade? Por que não criar mais bibliotecas, com bons acervos? O Brasil também é reconhecido pelos imortais da Literatura, que muitos nunca nem ouviram falar.

A pobreza mais grave é a de informação. Um povo que desconhece os próprios valores é incapaz de conquistar uma melhor qualidade de vida.

A quem interessa a ignorância da população?

Penso que os que criticam o que é consumido pelo pobre, deveriam também se engajar em causas sociais que melhorem a vida dessas pessoas. Que ajudem a cobrar do Estado o que é dever dele: oferecer condições dignas para que o povo tenha uma boa educação e mais acesso à cultura geral. Mas por que não o fazem? Por que tão-somente criticar o mínimo que sobra para essas pessoas?

Há um grande desperdício de críticas nesse país. Há um vício de desvio de atenção. Perde-se muito tempo fazendo fumaça de gelo seco para simular incêndio.

Temos de cobrar cultura de quem realmente pode ajudar a difundi-la. Temos de cobrar, sobretudo, uma educação decente nas escolas. Distribuir livros. Incentivar a leitura. Fazer com que os grandes nomes de nossa arte sejam conhecidos pelos mais carentes. Criar meios que facilitem a formação do pensamento.

O pensamento é, sem dúvida, um dos bens mais preciosos que se tem. É através dele que descobrimos o mundo. É válido quando alguém, ao assistir uma novela, por exemplo, reflete sobre determinado personagem, sobre o seu conflito, e isso suscita uma discussão saudável acerca de algum tema.

Fico me perguntando se a internet também não está caminhando a passos lentos para a sua demonização frente as demais formas de aquisição de cultura.

Noto que há muito preconceito a tudo que nivela, de um certo modo, a sociedade. Existe uma resistência tácita que quer deter o conhecimento apenas para si. E que vê a expansão dos veículos de comunicação como uma verdadeira ameaça.

O conhecimento liberta, seja ele por que meio se dê. A parte boa da história é que o avanço das mídias continua a todo vapor, fortalecendo a democracia, valorizando e enriquecendo a interação entre os povos e suas culturas diversificadas.

Quem sabe daqui a alguns anos tenhamos uma sociedade de fato liberta do demônio da ignorância e do preconceito?

É ver pra crer!

3 comentários:

  1. Uauuu! Arrasou!! Muito lindo e verdadeiro tudo isso que vc escreveu! Me sinto extremamente feliz por ter um amigo tão inteligente, lindo e com um senso de justiça incrível! Parabéns, Thi! Que Deus te abençõe sempre!! Te Adoroooo! Bjs...Guta

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  2. Concordo com você. Vale ressaltar também que existem várias pessoas que não se interessa em “acrescentar”, um bom exemplo disso foi uma reportagem que saiu logo pós a tomada das comunidades na Vila da Penha, onde tinha diversas pessoas que nunca saíram de lá, pois vivia em um grande bairro onde tinha tudo. Outra coisa importante é o fato de que quem assiste “programas populares” são pessoas que precisam saber o que está acontecendo seu bairro, próximo de lá, porque trabalha o dia todo e está preocupado com sua segurança e de sua família, e quando chega em casa não quer saber de assuntos dos quais não entende como economia e política, para ele não é pratico e usual, apenas vê o conveniente.
    A massa mais desfavorecida trabalha de segunda a segunda muitas vezes para ganhar um salário mínimo e sustentar sua família.
    Se fosse interessante para o governo, práticas como esterilização em massa (opcional), saúde de qualidade, educação, valorização dos profissionais, dos quais eu nem vou enumerar por serem muitos; resumindo qualidade de vida.
    Agora pense, se eu dou tudo que a população tem de direito, chegará um momento que será necessário explicar coisas, ensinar, e com isso as pessoas antes “ignorante”, hoje ficaram atentas as falcatruas, resumindo pessoas pensantes, que serão mais seletivas ao pensarem em um voto, aquela pessoa que tem um salário digno, e que não precisa de cesta básica ou bolsa família, aquela pessoa que antes via Big Brother Brasil.

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  3. Endemonizam os gostos "pitorescos" da população, como se os mesmos meios de comunicação não fossem instrumentos fundamentais para tais situações. Quando apregoam gírias, modos de vestir e falar, muita das vezes são repetições subsequentes que novelas, programas e outros mais veiculam. Não devemos aqui depreciar a influência dos grupos sociais nos meios de comunicação, mas essa interação ela é cada vez mais nefasta à população. Amigo Thiago, concordo plenamente que as telenovelas têm sido o que de melhor o Brasil produz em termos de entretenimento e cultura - se analisarmos os clássicos escritos por Janete Clair e Dias Gomes - e, salvo algumas exceções, do que se tem produzido ultimamente. Creio que haja um certo ar nostálgico até mesmo da minha parte, mas, essencialmente, muitas coisas nos escapam aos olhos, pensando que as novelas elas estão hoje sendo produzidas muito em função do que as mesmas renderão às emissoras - e aí entra o viéis capitalista - do que propriamente o efeito que ela causa, como nas tragédias gregas descritas por Aristóteles no sentido de que as mesmas, mais do que entretenimento, causassem alguma reação no expectador e que isso se traduzisse em ações práticas boas e corretas, principalmente relacionadas à política. Quando digo aqui política não é a disputa eleitoral, que é uma visão reducionista do termo, mas que atitudes este cidadão ou esta cidadã deve mostrar diante dos desafios pessoais e em prol do bem da coletividade.

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