Total de visualizações de página

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A sociedade cria monstros

Incrível o patamar de violência a que se tem chegado em alguns setores da sociedade. Nas escolas, a maldade que antes era quase anônima, hoje é internacionalmente conhecida por bullying.
 
O tal bullying, na minha forma de pensar, é tão antigo quanto o laboratório do Dr. Victor Frankstein e de seu monstro, que levava o mesmo sobrenome. Só que no caso da vida real, criador e criatura se excedem em seus papéis e o apelo romanesco perde espaço para as grandes tragédias sociais. Ex alunos que invadem as escolas sedentos por sangue, por exemplo.

A responsabilidade de acabar com essas fábricas de monstros não é do Estado. Mas sim de quem contribui para que ele tome forma e saia por aí fazendo as suas vítimas.

Quem fabrica o monstro?

Quem fabrica é quem exerce algum tipo de poder sobre o "material bruto" do qual ele é formado. Vindo à realidade e fazendo uma analogia com o que já foi dito, basta falar que uma criança é um material bruto, tal qual uma pedra que deve ser lapidada para alcançar rara beleza. A rara beleza da realidade é o caráter, que deve ser modelado pelos pais. Lembrando que cada um já nasce com uma tendência de caráter, por isso é importante o acompanhamento direto dos pais.

Os professores apenas trabalham e complementam aquilo que a criança traz de casa. De modo que um marceneiro precisa de uma boa peça de madeira para que o seu trabalho saia a contento. Uma peça de má qualidade jamais poderá transformar-se num móvel primoroso.

É preciso investigar quais os valores que tomamos como base. Vale lembrar que uma criança tem como certo tudo aquilo que lhe é ensinado. É fato nem todo filho concorda com aquilo que aprende, mas a base que ele recebe quando criança é imutável.

Por outro lado, a ausência ou omissão dos pais também serve como alavanca para a formação do caráter de um indivíduo. Voltando à pedra que deve ser lapidada, imaginemos que essa pedra fique abandonada ao léu, sendo esculpida por fatores externos que não os de sua natureza original. Fatalmente vão aparecer imperfeições em sua forma. Claro! O material usado na sua formação também foi imperfeito, logo não teria como ser diferente dele.

A sociedade, por sua vez, faz vistas grossas ao que julga "normal". Acha normal crianças se agredirem, se ofenderem em pleno ambiente escolar. Ah, coisa de criança! ¾ é a justificativa. Não é difícil o pai achar bacana, como prova de masculinidade, o filho agredir o coleguinha mais fraco ou o "mais estranho" da turma. O problema é que aquele coleguinha frágil, indefeso, vai crescer e pode reclamar anos mais tarde todas as humilhações pelas quais passou.

A sociedade odeia a injustiça (alunos inocentes morrerem), mas não odeia o injusto (o filho que pratica o bullying contra outra criança). É uma relação de amor e ódio. O conceito do que é normal ou não, dentro deste assunto, ainda não ficou bem esclarecido; não gera consenso nem entre os especialistas.

A população se acostuma com velhos hábitos e depois não consegue revê-los, reavaliá-los. É muito difícil falar para alguém que algo é errado quando ela passou a vida toda achando que era o correto, ou que era natural. A mudança para todo esse caos passa justamente pela ideia de rever conceitos, reformular pensamentos.

É indispensável a participação do professor nessa reformulação de conceitos. Os esforços devem ser de responsabilidade de todos.

Nenhuma mudança é possível sem a cooperação das várias partes envolvidas. Há de se pensar que o objetivo é comum a todos. Já é tempo de fecharmos as fábricas de monstros. Precisamos formar cidadãos de bem. É necessário que a sociedade tenha ânimo da mudança, partindo da educação familiar. Dos valores que são agregados à pessoa desde a sua infância.

Talvez a minha afirmação pareça pessimista, porém acredito que a sociedade cria os seus monstros e depois não sabe lidar com eles. Isso faz um link com outro assunto, que é o nosso sistema penitenciário, que não recupera o indivíduo; ao contrário, é sabido que a maior parte dos detentos "evoluem" na escala do crime quando apenados. É o velho método de atacar a consequência e não a causa, gerando um círculo vicioso.

Talvez tratar a consequência seja mais rápido e prático do que investigar a causa.

Há algo de muito errado. Se não começarmos a mudar de agora o nosso comportamento diante de alguns fatos, um colapso social será inevitável; onde a violência se tornará algo tão banal que deixará de nos provocar indignação. É aí que mora o perigo...

2 comentários:

  1. Thi,
    Esta é a + pura verdade!
    Isso existe há muitos anos!Sofri este tal de bullyng na minha própria família! Qdo. criança, colocam apelidos em vc, que te incomodam muito, mas ...até então, ninguém sabia que tratava-se de um "crime" e pode ter certeza que continuam fazendo isso! As pessoas estão tão carentes de informação...que se o bullyng acontecer fora da escola, vão acreditar que não significa nada! E, eu entendo que é crime da mesma forma! Obrigada por passar um assunto de extrema importância! Beijos......

    ResponderExcluir
  2. Que incrível não ...lendo sua matéria agora , 03/2019. Após o ocorrido na escola de Suzano/SP. Concordo com tudo que disse. A sociedade cria seus monstros e depois não sabe lidar. Acabei de dizer isso para uma pessoa e depois achei sua matéria.

    ResponderExcluir