Há muitas controvérsias acerca da existência de um mundo paralelo, digamos assim, que comanda todos os desígnios desse mundo humano em que vivemos. Estou falando do mundo espiritual. Seja você religioso, ateu, agnóstico, crédulo ou incrédulo, ou que simplesmente nunca tenha pensado a respeito, a verdade é que nosso mundo terreno está cheio dessas codificações que sustentam a visão do algo “além de nós”.
Uma forma prática de perceber esses códigos é quando vamos a uma cerimônia fúnebre. Tudo que ali está guarda um significado que se refere à “passagem” que o indivíduo faz de um mundo para o outro. E curioso é que mesmo os que não crêem nessa comunicação entre dois planos existenciais diferentes, reconhecem e compreendem o sentido daqueles rituais. Nota-se que a existência dos códigos independe da comprovação do fato a que eles se destinam. É como se os hábitos fossem a própria representação materializada do outro mundo. Fica a pergunta se isso já não é o suficiente para afirmar a realidade do plano superior em nossas vidas tão terrenas e passageiras.
Outros códigos também estão presentes em nosso cotidiano ainda que não sejam tão perceptíveis. Quando passamos por alguma situação difícil em que nos vemos quase em um “beco sem saída”, é comum apelarmos para uma salvação que transcende a racionalidade. Esse apelo varia de pessoa para pessoa, porque há quem conte as suas aflições para o acaso, ou até mesmo para o nada, e há quem se dirija especificamente para um Ser Supremo de sua devoção e fé.
As opiniões diversas a respeito desse assunto, queira ou não, acabam por manter vivas no consciente coletivo as indagações sobre os mistérios que envolvem a nossa existência. Por vezes parece irracional pensar que somos tão auto-suficientes sem uma interferência superior. Como explicar então tantas coisas incríveis que acontecem? Como explicar verdadeiros milagres no campo da medicina, por exemplo? Será que a sorte pode justificar tantos fatos ainda inexplicáveis que hora ou outra nos surpreendem sem o menor nexo de razão? E se a sorte fosse uma das vertentes da fé? Ou até mesmo uma forma de fé porém com outro nome, que é provocada justamente pela força do nosso querer interior quando este entra em contato com um plano extraterreno?
Talvez nunca cheguemos a uma resposta exata. Aliás, exatidão não cabe em um assunto que pressupõe forças ocultas além do nosso entendimento.
E as religiões estão aí para fortalecer a nossa crença nessas forças. Cada uma vai atribuir a um Deus, ou a vários deuses, ou a entidades, o domínio sobre tudo que nos acontece, sejam coisas boas ou más. É como se o Ser Superior fosse o escritor, e nós os seus personagens; no entanto, sem que essa escrita necessite de uma lógica.
Acho que tudo é possível para quem crê. A fé nasce dentro de cada um, e ela não reconhece religião, mas sim o desejo da nossa alma. Acredito que qualquer ser humano é capaz de transpor obstáculos por pior que sejam, e aí sim acontece a conexão com algo muito maior.
Quando escrevi o texto da peça “Amor, Promessa e Castigo”, mergulhei na história bíblica de Ana, esposa de Elcana, e que não podia dele engravidar. Elcana era também casado com Penina, que gerava filhos e filhas. Penina humilhava Ana e a fazia chorar dias e noites. Porém Ana manteve a sua fé inabalável e assim, segundo a história cristã, o Senhor concedeu um milagre a ela, que acabou por engravidar e deu à luz Samuel. Foi impossível para mim não meditar sobre a fé. Terminei o texto da peça, que não conteve nenhum caráter religioso, mas fiquei pensando na história bíblica, que final teria se Ana não guardasse uma grande fé dentro de si. E me questionei se não era possível que houvesse outras Anas vivendo aquela situação.
Que códigos aquela mulher reconhecera como sendo indicador de um milagre? Faz pensar que em dados momentos cabe a nós decifrar a codificação do mundo espiritual, se acharmos conveniente acreditarmos nele.
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