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terça-feira, 18 de novembro de 2014

O destino é soberano


Estava há pouco fazendo a minha barba. Amanhã embarco logo cedo para Belo Horizonte (ou será hoje?) Enfim, voltarei à noite. Enquanto eu deslizava em meu rosto a máquina de aparar pelos, ao som da JB FM (claro!!), imediatamente comecei a lembrar d’outros tempos. De fatos e situações pelas quais já passei ao longo desses 32 anos vividos. Lembrei de tanta coisa: de sonhos, de pesadelos, de anseios, de pessoas que chegaram, de pessoas que se foram... A minha conclusão foi de que nem sempre o momento atual é aquele que esperávamos viver. Parece meio óbvio, né? E é!

A graça da vida consiste justamente em atirarmo-nos de cabeça no oceano misterioso do porvir. Encontrei muitas alegrias no meu momento atual. Ri sozinho de um cotidiano que, de tão simples, outrora me parecia impossível.

Mas nem tudo “são flores”. Encarei dificuldades e percebi que cresci mais do que imaginava. Embora eu conserve ainda aquele lado menino, que corre para os braços da mãe vez ou outra, sempre passo por um instante de decisão, de Daniel na cova dos leões. Ou uma espécie de arena, onde sou gladiador de mim mesmo.

Tomo banho, visto meu pijama de cetim ao tempo em que Lulu Santos canta na rádio “Como Uma Onda no Mar”. E não é que a música parece  trilha sonora dos meus pensamentos? É exatamente assim que funciona a vida: como onda no mar. 

Deixar-se levar é uma virtude. Mas por que diabos a gente tenta de qualquer maneira alterar ou controlar o curso do destino? Que raio de medo é esse que temos incutido dentro de nós, que de certa forma nos deixa em alerta constante? Mas alerta em função de quê, meu Deus? Qual o motivo de tanto medo em deixarmos a ordem natural das coisas seguirem o seu rumo? Será medo de sofrer? De nos decepcionarmos? Ou simplesmente medo de sermos contrariados em nossa vontade tão qual o medo de uma criança pirracenta?

Olho para o meu polegar e vejo que sangra a minha cutícula. Maldito vício de roer as unhas, e essa é uma forma inconsciente de dizer que se tem medo, ou no mínimo um receio bobo. É sinal de que algo não está bem ou que está ligeiramente nos perturbando. O pior é que por mais que o ferimento cause dor, uma hora eu o esqueço e lá estarei roendo as unhas novamente. Ressurge também o outro vício: o de tentar controlar os acontecimentos conforme a nossa vontade? Percebemos o quão isso é impossível e quebramos a cara muitas vezes, porém não demora para que voltemos a fazer tudo de novo. É a unha e a cutícula que crescem. É o destino comandando. É a unha na boca, sendo cortada, dilacerada. É a nossa infinita e libidinosa mania de tentar moldar as circunstâncias de acordo com a nossa vontade.

Notei que hoje estou menos didático nas minhas divagações tolas. Será que mudei muito desde o meu último texto?

Talvez seja o próprio destino me acenando gentilmente que ele continua por aqui. Ele quer me provar que algo soberano paira sobre nós. Uma vontade maior. Vai ver que é desse modo que dizem que “o universo conspira a nosso favor.”

Considerando que o fim da vida é a morte, logo não é difícil entender que coisas se modificam durante o tempo todo da nossa vil existência. E isso não depende de aceitação. Simplesmente modificam e ponto.

Bem, já passa da meia noite. Tenho que dormir e não posso me dar ao luxo de ficar aqui escrevendo minhas bobagens. Às quatro preciso já estar de pé. Daqui para o Santos Dumont é uma longa caminhada.

Neste exato minuto está tocando na rádio “Chão de Giz.” Amo essa música. Principalmente a versão original com o inoxidável Zé Ramalho. Sou fã!

Antes de eu tomar o meu remedinho da noite e desmaiar de vez na cama, registro aqui uma espécie de oração que deveríamos fazer todos os dias: “Que amanhã, Senhor, seja melhor do que hoje. Que o meu destino traga o melhor para mim e para todos os que amo. Aos que me odeiam, flores e perdão. Aos que me amam, flores e lugar cativo no meu lado esquerdo do peito. Que o medo se torne um hábito do passado e que a renovação me venha leve e agradável como um sopro de brisa. Amém.”
 
E até breve.

terça-feira, 13 de maio de 2014

O poder da felicidade

Será que alguém já parou para refletir sobre o poder da tão desejada felicidade? Às vezes passamos tanto tempo a buscá-la, que sequer pensamos a respeito de como na prática esse sentimento poderia influenciar a nossa vida e, por consequência, as nossas atitudes.

É óbvio que essa busca incansável reflete na verdade um estado de espírito. Há quem diga que não existe ser feliz, mas sim estar feliz. Outros afirmam que a felicidade é o caminho, e não o destino da caminhada. Alguns argumentam ainda que a felicidade consiste em fragmentos de situações vividas; sendo assim, não é um estado permanente, alterna-se com momentos de tristeza e frustrações.

Uma opinião que sempre trago comigo é que o feliz, de momento ou não, jamais especula maliciosamente sobre a vida do outro. Não maldiz o seu próximo e nem pragueja ou investe contra ele movido por inveja ou qualquer outro sentimento negativo. Porque a felicidade tem vários poderes, entre os quais o de preencher o interior de uma pessoa; de provocar um bem-estar tão grande que não resta espaço para sentimentos negativos. Ao contrário, quanto mais se é feliz, mais se quer que o outro também seja feliz e experimente aquela sensação boa e plena.

Segundo um estudo realizado pelo cineasta europeu Collin Camino, em 2009, cujo título é Reverse Diabetes, ou em uma tradução livre para o português  “Diabetes Reverso”, aponta a felicidade como principal elemento de cura para a doença. Inclusive o estudo levou Camino a criar o instituto “Espírito Feliz” na internet, e seus escritos são seguidos fielmente em 9 países, estando na Inglaterra e nos Estados Unidos o seu maior número de seguidores. Camino é escritor e cineasta por formação, mas dedica boa parte do seu tempo a pesquisar de forma independente os efeitos da felicidade na saúde das pessoas.

De início, o site procurava mostrar a cura para a depressão. Passado algum tempo, depois de muitas pesquisas realizadas pelo cineasta, chegou-se à conclusão de que um estado de espírito feliz tinha o poder de reverter o diabetes também, sem que os pacientes precisassem necessariamente seguir uma dieta rigorosa, abstendo-se de todo tipo de açúcares.

Ora, levando em conta o estudo de Camino e mais o comportamento de algumas pessoas que se dizem felizes, não seria leviano afirmar que só nesse viés temos dois benefícios incríveis que só a felicidade é capaz de proporcionar: o desapego de uma forma maldosa de enxergar a vida alheia e também a cura de doenças.

O problema é quando condicionamos a nossa felicidade à conquista de determinados bens materiais e assim julgamos que não poderemos ser felizes sem eles. Ou ainda, quando depositados em alguém a razão da nossa felicidade — e este talvez deva ser o maior erro de todos, visto que se o outro nos decepciona, nós nos tornamos fonte de amarguras, frustrações e tristezas que nos arrastam para o fundo do poço. Ficamos dependentes do outro para que sejamos felizes.

O que é indispensável que tenhamos em mente é que somos os únicos responsáveis pela nossa própria felicidade, o outro apenas soma, contribui, mas não é capaz de trazer aquilo que não existe em nós originalmente. Como dizia o Marquês de Maricá: Os homens nos parecerão sempre injustos enquanto o forem as pretensões do nosso amor-próprio.”

Depositar no outro todas as nossas expectativas de amor e felicidade quase sempre nos traz graves decepções. A escritora gaúcha Clarisse Corrêa alerta: “Mais amor próprio. Porque antes de amar qualquer coisa ou pessoa você tem que amar você mesmo primeiro.”

Felicidade boa é aquela que nos tira do prumo, da zona de conforto. É aquele tipo que temos até medo de perder, seja até por um vento que soprar na hora errada. É aquela que provoca frio na barriga. Sentimento de eternidade. De gratidão a Deus, à vida e às pessoas queridas que estão ao nosso redor, zelando por nós.

A proposta é: ser feliz e deixar que os outros também o sejam, cada um à sua maneira. Porque cada ser humano é único em sua essência, e somente o próprio indivíduo sabe o que é melhor para si. Não aceitar ou combater a felicidade do outro é negar a si mesmo o direito de cuidar da própria vida e de também tentar ser feliz.

Como diz a canção do Marcelo Jeneci: “Felicidade é só questão de ser.”

Ponto.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O direito do outro

Será que é tão difícil para nós — enquanto seres  viventes  e  habitantes  de  um  mesmo planeta —  aceitarmos a existência de nossos irmãos? Irmãos porque somos colaterais uns dos outros da mesma espécie. Fisicamente as diferenças entre nós são mínimas diante das semelhanças. Mas se todos são realmente parecidos entre si, por que tanta discordância e desarmonia em um mesmo habitat? Se nos aprofundarmos nessa reflexão, vamos descobrir que essas discordâncias aparecem quando entramos na área em que justamente as diferenças são mais latentes do que as semelhanças: a área do gosto pessoal de cada indivíduo. É aí que a coisa complica!

Uma das definições da palavra “gosto”, segundo o dicionário Aurélio é: “faculdade de julgar os valores estéticos segundo critérios subjetivos, sem levar em conta normas preestabelecidas.”

Se não há norma preestabelecida, isto quer dizer que é livre a formação dessa preferência. E esta não sofre qualquer influência direta de fatores externos quanto à sua formação original. O que vai determinar se um gosto é bom ou ruim, é a experimentação posterior. Quando ele nasce, porém, o que temos é uma inclinação, uma tendência a perceber aquilo que nos agrada. Daí não existe interferência nem mesmo de nós e tampouco dos outros. Tentar mudar o gosto de alguém é tentar mudar a natureza, a concepção mais genuína de uma pessoa. 

Há quem diga que é possível mudar sim uma preferência individual, no entanto o que você pode é contê-la, represá-la, aprisioná-la ou simplesmente não dar vazão a ela. Mudar, nunca. O que nasce de você e sequer está no seu DNA (porque DNA é ciência, tem como ser ‘lido’) não tem como sofrer nenhum tipo de manipulação ou doutrina externa. Como, por exemplo, pegar algo com as mãos se este algo é invisível? Não tem como. O único controle que pode existir é o da “não vazão”. É ignorar as próprias inclinações ou brigar o tempo todo com ela, tentando dominá-la a qualquer custo. Isto, sem dúvida, é fonte de grande sofrimento por parte daqueles que tomam esta decisão. É uma guerra constante com o próprio eu, e esse eu, por ser invisível e imutável, certamente será mais forte. Não tem como amputá-lo, tal qual se faria com um membro físico que perdeu a sua função vital.

O problema é que ainda que tenhamos essa consciência, sempre vai existir um outro, ou seja, um irmão de espécie que vai discordar da sua natureza. E vai combatê-la. Esse é o motivo de tantos confrontos, de tanta intolerância e até de guerras mundiais. A não aceitação do outro faz com que o mundo em que vivemos fique em total desequilíbrio, porque damos continuidade a uma batalha irracional e inútil de dominação.

Imaginar que um planeta habitado por bilhões de mentes e gostos díspares uns dos outros e que, em algum momento, essas mentes partirão para o conflito a fim de cada um tentar estabelecer o seu gosto pessoal, é assustador.

Não é apenas teoria que o mundo seria mais pacífico se todos aceitassem as preferências alheias. É uma questão de lógica. Mas por que não há essa aceitação? Simples. Porque colocamos interesses particulares — e muitas vezes não ligados ao bem estar geral — acima do respeito que deveríamos ter com o nosso irmão. Entender que o nosso direito termina quando começa o do outro deveria ser natural. Mas infelizmente não é.

Fala-se muito em modernidade, em avanço da ciência, da tecnologia, das comunicações, da medicina, entretanto pouco se fala em avanço da moral, da ética e do respeito. Quando alguém cria uma lei para que determinados direitos básicos sejam respeitados, não há qualquer razão para se comemorar. Ao contrário, vejo com tristeza isso. Triste do povo que precisa de leis que o obrigue a respeitar o direito do outro.

Teremos de fato um avanço útil e notável quando não precisarmos de leis que assegurem os nossos direitos individuais e coletivos mais básicos. Não adianta a sociedade avançar em outros aspectos se não avança no primordial: a boa convivência entre os seus colaterais.

Chego a acreditar que tanto progresso em outros seguimentos satisfaz uma condição imediatista do ser humano, capaz de jogá-lo num conformismo arraigado.

Do que me adianta uma telefonia de longo alcance se eu não tiver com quem falar? Ou do que me adianta uma rede social se for para apregoar o ódio e por isso todos se voltarem contra mim? Do que me adianta prolongar a vida de um paciente, se este não tiver vontade de voltar para a sua parentela?

O desrespeito está na religião, na etnia, na sexualidade, na cultura, na educação [ou na falta dela], na raça e na cor.

E o respeito: onde está?